domingo, 22 de agosto de 2010

JARDIM DO ÉDEN (Não Há Mais Nada Aqui) - POEMA

Quando a natureza morta
Envolve tudo a sua volta
Voce vê flores sem cores
Mastiga pétalas de rosas
Acha gostosas
Depois vomita sangue no jardim
Admira as moscas varejeiras
Que beijam a sua roseira
Até descubrir
Que não existem mais colibris

Quando a natureza morta
Acusa as suas botas
Voce vê arco-iris sem cores
Devora talos de cravos
Para não se sentir escravo
Vassalo no seu jardim
Caminha sobre os espinhos
Como se fosse um faquir
Até deduzir
Que o Éden não é mais aqui

Galerias Subterrâneas - POEMA

Mesmo cego de ciumes
Mantenho o estranho costume
De mirar e atirar facas de dois gumes
Para discernir
O olhar que teve a calma
De vislumbrar o meu sudário
Rasgado
E sujo de alma

Quando fui condenado, algemado, excrachado
Acendi uma vela
Para poder iluminar minhas vielas
Antes que as câmeras mostrassem
Em instantes instantâneos
Os abismos de sombras
E os labirintos de meu cotidiano

Mas enfim os canhões deram salvas
E eu, ingenuamente achei
Que a minha reputação estava salva
Porém, de repente eu vi
Que já fazia parte da capela
Aquele velho cravo
Que eu sempre usava na lapela

Esquinas Suburbanas - POEMA

Numa esquina suburbana jaz
Mais "Restos Motais" da raça humana
Sacrificados sem socorro nem ajuda
Como Judas
Na sombra de um poste sem luz
Como a cruz de Jesus
A violência latente
Silencia os ultimos sobreviventes

As esquinasnão são mais pontos parágrafos
São palcos de desfiles pornográficos
Onde brilham velas vacilantes
Nas encruzilhadas sem semáfaros
A todo instante
Gangs sujam de sangue as calçadas
E decretam o fim dos botequins
Onde os bêbados eram todos poliglotas
Contadores e inventores de anedotas

As esquinas hoje são pontos de encontros
Dos vadios e dos bandos de malandros
Corsários do cotidiano
É por onde passam os otários suburbanos
Com seus trajes de gala
Que são coletes a prova de bala
E o tragicamente típico
Que é cada um calar seu bico

Durante a noite
As esquinas apresentam um mistério
Que aumenta a população dos cemitérios
É onde normalmente surgem corpos
Ou qualquer outro sinônimo
Para mortos anônimos
Que só trazem como marcas
O furo das balas das matracas

Esquinas Suburbanas

TERRA DE CEGO - POEMA

Fazendo vistas grossas enxerguei
E com dois olhos me fiz rei
Em terra de cego
Meus súditos repudiavam os meus atos
Mesmo assim eu reinava sublime
Como um goleador que salva o time

Com óculos e bengala que roubei
Tateando me fiz rei
Em terra de cego
No fundo não compensava tanto sacrifício
Enxergar a escuridão
Sem intertícios

Como tirano me perpetuei
E mesmo sem trono me fiz rei
Em terra de cego
Eu lavava minhas mãos como Pilatos
E tropeçava sublime
Como um gladiador que não se redime

Continuei fora da lei
Bem próximo ao que me fez rei
Em terra de cego
Sem dentes eu roía os ossos do ofício
Naturalmente temendo o regicício

domingo, 15 de agosto de 2010

ESGOTOS - Poema

Os esgostos são sinistros
Não estão aí para serem vistos
Tampas de esgotos são como grades de prisões
Entrar em esgotos é como cair em alçapões
Não é dificil alcançar as profundezas
Atingir fins e abismos através de suasa trilhas
Mas devido aos perigos e certas incertezas
Ninguem imagina um turismo
Por entre os lodos escrotos que enfeitam as manilhas
Mas existe algo de fantástico
Um certo sabor de aventura
Travessuras de garotos marotos
Que nem sentem o mau cheiro e não ouvem os arrotos
Que brotam dos canos dos esgotos

Os esgotos são esquesitos
Vielas de canos infinitos
O interior dos esgotos é uma grande confusão
Entrar pelos esgotos é como invadir uma nação
Iniciar uma dura peregrinação
Levando surras e sofrendo humilhações
Em prolongados estupros anais, desgostos
Algo a ver com os azares de agosto
Convivendo com ratazanas e outros czares dos esgotos
Descubrindo nas fossas de merda das cidades
As ambiguidades de nossas personalidades
Mas ao se lançar com a ousadia dos pilotos
Voce pode se chocar no fundo das galerias escuras
E ter que enfrentar as criaturas dos esgostos

Os esgotos são malditos
Absolvem o sangue escondido dos delitos
Quem olha os esgotos sente canceira na visão
Pisar descalço em esgotos é uma uma estranha sensação
Mas não se preocupe em fazer um relato
Os muitos dialetos dos esgotos não tem nenhuma tradução
Apenas tome cuidado com as chuvas que inundam os esgotos
Todos sabem que os esgotos são escrotos
Ignore os fatos, lendas de esgotos não tem tradição
Mas evite entrar pelas curvas que circundam os esgotos
E não deixe seus sapatos em posição como os que apodrecem nos esgotos
Para não despertar os ratos e os seres nefastos
Os exércitos dos esgotos querem uma revolução

Esgotos são como os conflitos
Que abafam gritos dentro de peitos aflitos
Para entrar nos esgotos não há qualquer proibição
Mas para sair dos esgostos há que se cumprir uma missão
Deixe toda a sua inibição com seus objetos de estimação
Ao assumir o seu posto
E lutar contra os insetos e outros estranhos objetos
Que se escondem nos esgotos
Mas esgostos não são nada
São apenas crateras nuas entre ruas e calçadas
Porém, há crianças nos esgotos lutando pela sobrevivência
Há liderança nos esgotos que querem sobreviver
Lutam para sobrevivência e pela independência
Temos que traduzir esta agonia, a miséria
Cada vez mais séria no nosso dia-a-dia
Já que não dá para explodir todas as galerias
Apagar essa agonia, amargura, desgosto
O surrealismo estampado no rosto
Das criaturas de nossos esgotos

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domingo, 1 de agosto de 2010

SOLIDÃO SILENCIOSA - POEMA

Sou um eterno apaixonado
Penso em voce
E vou de encontro ao meu passado
Emocionado como num jogo
Na hora de um gol do Botafogo

A noite está misteriosa
Crua
(Sua silhueta era tão indecorosa)
Esapero que minhas memóras não falhem
Apagando pequenos detalhes
Da nossa longa história

Estou só
E à solidão ninguem se adapta
A solidão maltrata
O pensamento inventa punhais de prata
A solidão mata

A noite está silenciosa
Nua
(Sua buceta era tão saborosa)
Sinto que estou exitado
E tentando inutilmente
Materializar meu presente no passado

NIETZCHE E A CULTURA ESCRAVA - CONTINUAÇÃO

Para Nietzche, o grego não tinha apenas um conceito para bem e mal, ruim e bom; tinha dois, dependendo do ponto de vista da classe que usava. Quem primeiro definiu a palavra foi o senhor, o escravo definia o que era justo ou injusto apenas num segundo momento. Logo o senhor é o dono é da palavra e da linguagem, o escravo primeiro tem que ter conhecimento de algo que nasceu do senhor para se posicionar sobre bem e mal, justo e injusto
Ser senhor é ter poder de se aproximar da linguagem. O senhor é quem diz sim, o escravo diz não; ele deixa de ser escravo e passa a ser senhor, não quando muda a sua classe social, mas quando se apropria da linguagem e deixa de dizer "não"(não a injustiça, não aos maus tratos etc...)
O homem moderno é atrofiado em relação à ação e à criação, recebe uma grande quantidade de informação que não consegue digerir. Na nossa cultura a tendência é o indivíduo negar seus valores ao invés de afirmar, ele não cria seus valores, não cria dianteira nem vanguarda.
Os valores para Nietzche são criados de acordo com certas necessidades, depois se sedimentam e aparecem como valores eternos. O fato de o escravo ter que produzir para o senhor alimentou todo um ódio, todo um ressentimento que gerou a rebelião dos escravos da moral que começou quando começou quando este começou a produzir os valores gerados do ódio que tinham e se desenvolvia ao contentar-se com uma vingança imaginária
Já o senhor revidava o seu ódio, revidava duelando, sendo assim, o senhor geralmente morria novo.Nesse sentido, o escravo passa a ser mais sábio que o senhor, que por ser tão arrogante passa a ser igualmente ingênuo, enquanto o escravo desenvolve a memória, porque jamais esquece o que sofreu e, nesse caso, passa a ser mais estrategista que o senhor.
O senhor é um tipo condenado ao desaparecimento, ele sempre necessita do espelho de um outro senhor para se reconhecer
Ao lado desses dois tipos, Nietzche aponta um terceiro tipo, que seria o tipo "sacerdote"; sacerdote não no sentido religioso da palavra, mas como aquele que atua consolando, e obviamente aliviando o sofrimento. A espiritualização não é fruto do senhor, mas do escravo, que é consolado pelo sacerdote.
A classe sacerdotal e a classe aristocrática e guerreira do senhor tendem a invejar-se mutuamente. Os senhores são robustos, livres e alegres, entretanto, os sacerdotes são inimi8gos mais malignos porque são impotentes, e a impotência faz crescer neles um ódio monstruoso, sinistro, intelectual e venenoso.
O tipo senhor luta até morrer, joga com a própria vida para se manter senhor, ao ser derrotado, ou morre ou se torna escravo. O tipo sacerdote surge para alivar o rancor daqueles que tem que segurar o revide; e do tipo escravo recebemos o legado da cultura e dos valores. Essa origem se repete através dos tempos na medida em que está escrita no caráter funesto da humanidade.
O cristianismo, espinha dorsal da civilização ocidental é,segundo Nietzche, o escravo no poder, a vitória do escravo sobre o senhor. A cultura judaico-cristã é uma cultura de escravos. Para ele, o burgues do século XIX, o capitalista, não é senhor, é um escravo bem sucedido.

NIETZCHE E A CULTURA ESCRAVA

A Grécia é o berço da civilização ocidental, e os poemas de Homero a matriz cultural dessa civilização. No entanto, para o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzche(l844-1900) a origem de nossa cultura e de nossos valores é uma origem baixa, uma vez que a nossa cultura não é uma cultura do senhor, mas, uma cultura do escravo. Ele entende que, no que seria a origem de nossa cultura existia posições antagônicas, uma certa dialética entre o senhor e o escravo.
Segundo Nietzche, os aristocratas caracterizavam-se pela boa musculatura, pela saude florescente, o que para isso contribui as guerras, a caça, a dança, os jogos, os exercícios físicos e tudo que implica uma atividade robusta, livre e alegre. Toda moral aristocrática nasceu de uma triunfante afirmação de si mesma. Já a moral dos escravos desevolveu-se opondo-se, implantando um "não" a tudo que era seu.
Nietzche entende que o senhor é uma força de opressão, sendo assim, o escravo designa como mau tudo que o senhor acha que é bom. Todo mau é atribuido ao escravo, já o senhor é visto como algo saudável e bom; o escravo não pode deixar de considerar a presença do senhor, porque ele está lá, oprimindo, já o senhor pode ignorar o escravo.
" A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e que apenas por vingança obtém reparação - Nietzche - A Genealogia da Moral-pp 28-29"
O senhor é antes de tudo senhor de si mesmo, fala na primeira pessoa, e, ser senhor de si, é vencer em si a qualidade de ser senhor ou escravo e,é o momento em que se torna senhor, não quando se pássa para uma classe dominante, mas quando passa a agir.
Na luta pela sobrevivência o mais frágil é capaz de reagir e o reagir depende do golpe do senhor. o agir não. O senhor age.
"O homem do ressentimento não é franco, nem ingênuo, nem honesto e reto consigo. Sua alma olha de través, ele ama os refúgios, os subterfúgios, os caminhos ocultos, tudo escondido lhe agrada como seu mundo, sua segurança, seu bálsamo; ele entende do silêncio, do não esquecimento, da espera, do momentâneo apequnamento e da humilhação própria - Nietzche - A Genealogia da Moral - pp 30"
Baseando-se na dialética, de que segundo Nietzche, há um tipo senhor e um tipo escravo, entende-se que o senhor é o mestre e tem capacidade de responder, revidar todas as injustiças que lhe são feitas, mas em relação ao escravo, as injustiças tendem a canalizar uma raiva, gerar um ressentimento, um ódio pelo fato de ele não poder revidar uma ofensa. Todavia, segundo Nietzche, a cultura escrava sobrevive, visto que aprende a duras penas transformar essa raiva em algo que consegue elaborar, protelar e se transformar num ser mais arguto e mais inteligente(Pensa para sobreviver). CONTINUA