domingo, 25 de julho de 2010

POESIA MORTA - Poema

Minha poesia
É calcada em palavras amargas
Frases malucas
Temperadas com muito sal
Pouco açucar
Mas tem um toque de magia
Que provoca risos nas tragédias
Derrama lágrimas em comédias
E até seria cômica
Se não fosse tão trágica

Minha poesia privilegia os vigaristas
Vagabundos, cafetões, transformistas
Conformistas e os ativistas que fazem greve
Seguindo os que não sabem
O que querem e pra que serve

Minha poesia
Não ambiciona invadir a mídia
Com propostas polêmicas
Nem seduzir intelectuais da classe média
Com teorias acadêmicas
Meus versos tétricos, cafonas
Tem muito mais a ver com o universo
Que envolve as donas de casa
Que passam os dias em casa sózinhas
Como os eletrodomésticos das cozinhas

Minha poesia é abrangente e restrita
Repelente e bonita
Do repente é infinita
Minha poesia é leiga e erudita
Um pouco sagrada, muito maldita

Minha poesia
Está distante como amantes de caixeiros-viajantes
A todo instante a emoção dispara misseis
E nos tempos difíceis me envolve em fantasias e fetiches
As imagens são transparentes e escuras
As vezes meiga, as vezes bruta, as vezes leiga, as vezes culta
Um pouco intelectual e muito burra
Mesmo quando é legal, insulta
Minha poesia é um fruto podre da contra-cultura
Meros lampejos de lucidez nos meus relampejos dse loucura

Minha poesia se inspira
Em donzelas banguelas
Belas que desfilam nas vielas
Sonhando que um dia serão aquelas
Que sairam dos guetos das favelas

Minha poesia
É para os notívagos que não amam a lua
Também para os mendigos que apenas andam pelas ruas
Mas também serve para os otários
Bêbados, putas, viados, operários
Quem sabe também para estelionatários, malandros, presidiários
Minha poesia nasceu como uma apologia aos solitários
Reacionários sem escrupulos
Nasceu também para certos seres clandestinos que vagam sem destino
E somem após o crepúsculo

Minha poesia
É para as mulheres, os negros, os índios
E algumas outras minorias
É feita para ser declamada nas zonas
E em outras áreas de baixo meretrício
Louvada por meretrizes infelizes
Numa ode aos boêmios, aos ousados
Aos cafetões, gigolôs, sapatões, depravados
Quem sabe para algumas lésbicas domésticas, sodomizadas prostitutas
Todos e toas que tem disposição de ir a luta

Minha poesia
É para os invisíveis, os despresíveis
Os seres fracos, chatos, inconvenientes, opacos
Meche com aquelas donzelas apaixonadas
Que apenas num olhar ficam meladas
Mas não serve para dar roupa a descamisados
Muito menos pão a esfamiados
Não faz graça para os que remoem a desgraça
Sentados nos bancos das praças
Devorando jornais como traças

Minha poesia são trevas
Abismos, sombras, cavernas
Ístimos, bombas, tavernas
Mas insiste em esquentar o frio do seu coração
Enquanto sua alama hiberna

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